ANDRÉ SINGER *
A voz das ruas, a ira de Marina e as repercussões do mensalão.
Para a política brasileira, o ano que se encerra foi marcado por três
fatos que mudaram o quadro previsível 12 meses atrás. O mais
importante foi a inesperada sequência de manifestações que eclodiram em junho. Abriu-se, assim, um novo ciclo de lutas sociais,
radicalizando a agenda que vai desaguar no próximo pleito
presidencial.
Consistiu
também numa surpresa a solução encontrada em outubro por Marina Silva
para resolver o impasse entre dedicar-se à proposta de construir um
partido renovador das instituições nacionais ou
permanecer na disputa pela Presidência da República. Ao entrar em
agremiação que já tem candidato, ela fica dentro e fora da eleição ao
mesmo tempo.
A
ex-senadora parece ter interpretado o fracasso do seu partido como obra
do PT. Por isso, tendo se juntado a Eduardo Campos, que já vinha
conversando com Aécio Neves, deu um passo na direção de formar um
potencial bloco de oposição a Dilma Rousseff no segundo turno.
Completando a sequência de eventos, o presidente do STF, Joaquim
Barbosa,
aproveitou o feriado de 15 de novembro para colocar na prisão três
importantes ex-dirigentes do PT, os quais têm direito ao regime
semiaberto. Ainda que a detenção decorra de um processo que remonta a
2005, cujos possíveis desdobramentos foram amplamente discutidos em
diversos fóruns, parece claro que o ministro relator decidiu usar o
poder que lhe cabia para produzir um efeito simbólico de larga
repercussão futura.
Vistos em perspectiva eleitoral, a tríade de
acontecimentos representa dificuldades para a candidatura Rousseff, que
navegava em águas calmas no final de 2012. Com uma aprovação de 62% e
Lula aparentemente fora da disputa, a presidente tinha caminho
desimpedido, apesar de algumas dificuldades na economia. Agora, ela
precisará enfrentar, com uma popularidade que caiu para 41%, a voz das
ruas, a ira de Marina e as repercussões do mensalão.
Nenhum dos
obstáculos é intransponível e, deve-se dizer, o lulismo vem enfrentando
de maneira competente esse conjunto de dificuldades nada desprezível.
Mas a síntese de 2013 é o crescimento de pressões em direções opostas, o
que projeta uma conjuntura complicada nos próximos meses.
Embora
contraditórios e, por vezes, confusos, os protestos expressam um desejo
de que investimentos públicos levem as cidades do país a uma condição
social verdadeiramente digna, com mobilidade, moradia, saúde, educação e
segurança para todos. Na outra ponta, forças oposicionistas, de vários
matizes, exigem uma contração do Estado, em nome da responsabilidade
fiscal ou da restauração da moralidade.
Vejamos que soluções para tais impasses nos trará 2014. (* Folha de S.Paulo)
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